4.10.2012

Justiça retoma exigência da carteira de estudante

Segunda, 9 de Abril de 2012 - 21h07(Portal Correio)

Justiça retoma exigência da carteira de estudante




A Associação das Empresas de Transportes Coletivos Urbanos de João Pessoa (AETC-JP) deve voltar a exigir a apresentação da carteira estudantil para vender a meia passagem no cartão Passe Legal, que dá acesso aos ônibus da capital paraibana.

A decisão foi tomada pelo juiz Antônio Sérgio Lopes, da 5ª Vara Cível de João Pessoa, nesta segunda-feira (9).

A decisão judicial se choca com a lei de iniciatva do deputado estadual Gervásio Maia Filho (PMDB), já aprovada pela Assembleia Legislativa, que dispensa a apresentação da carteira estudantil no Estado. Pela lei, para ter comprovar que é estudante e ter direito à meia passagem basta apresentar uma declaração de matrícula.

Entretando, a decisão de Antônio Sérgio Lopes está de acordo com a Lei Federal dos Estudantes, que prevê a exibição de carteira de identificação estudantil com foto para a liberação do desconto.

12.06.2011

Vacina contra câncer de pulmão

Terça, 6 de Dezembro de 2011 - 17h11
Cubanos são vacinados contra câncer de pulmão
Mais de duas mil pessoas receberam a vacina terapêutica CIMAVax-EGF, que pode se tornar a mais nova arma da humanidade contra o câncer de pulmão. A imunização foi criada em Cuba, e os médicos da ilha caribenha pretendem usar o mesmo princípio para o câncer de próstata, informou nesta terça-feira a imprensa cubana.
Segundo autoridades de saúde citadas nesta terça-feira pela imprensa oficial, a vacina "é um tratamento seguro contra o câncer, com
poucos efeitos adversos e aumenta a expectativa e qualidade de vida" do paciente. Gisela González, doutora em Ciências Biológicas e pioneira do projeto, anunciou, em declarações à agência AIN que está trabalhando com testes clínicos para aplicar a vacina contra o câncer de próstata, que deve começar a ser utilizada em 2012.
A CIMAVax-EGF está registrada em Cuba e no Peru, em trâmite de inscrição no Brasil, Argentina e Colômbia, entre outros países, e tem direito de patente em quase todo o mundo. Recentemente foi divulgado em Cuba que o Reino Unido aplicará nas próximas semanas um teste clínico dessa vacina terapêutica, que foi elaborada após 15 anos de pesquisa por cientistas do Centro de Imunologia Molecular de Cuba.
Os cientistas consideram que o princípio da vacina poderia ser usado no tratamento de outros tipos de câncer. A vacina não previne a doença, mas permite seu controle em estágio avançado ao gerar anticorpos contra as proteínas que causam o descontrole nos processos de multiplicação celular. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o câncer é a primeira causa das mortes em todo o mundo e, no ano passado, Cuba registrou mais de 22 mil mortes por tumores cancerígenos.

8.11.2011

PRÊMIO SESC DE LITERATURA

APRESENTAÇÃO
O PRÊMIO SESC DE LITERATURA é promovido pelo SESC – Serviço Social do Comércio, e objetiva premiar textos inéditos nas categorias CONTO e ROMANCE, destinados ao público adulto, escritos em língua portuguesa, por autores brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil. Não é permitida a inscrição de menores de 18 anos, bem como de residentes no exterior.

INSCRIÇÕES
1 - Cada concorrente poderá participar com apenas uma obra em cada categoria. Caso participe em ambas as categorias, as inscrições deverão ser enviadas separadamente, com pseudônimos distintos.
2 - Os textos inscritos deverão ser inéditos, ou seja, nunca terem sido publicados. Entende-se por publicação o processo de edição de uma obra literária e sua distribuição em livrarias ou pela internet, ainda que não possuam número de registro no ISBN.
3 - O autor não poderá ter nenhum livro publicado nas categorias em que se inscrever.
4 - Os originais deverão ser enviados em quatro vias encadernadas, com folha de rosto, na qual deverão constar apenas o TÍTULO da obra e o PSEUDÔNIMO (obrigatório) do autor, acompanhados de envelope lacrado contendo versão impressa da ficha de inscrição online, comprovante de residência e certificado de autoria.
5 - O texto deverá ser digitado em apenas um lado da folha, fonte Times New Roman tamanho 12, estilo normal, na cor preta; parágrafo de alinhamento justificado; espaço entrelinhas duplo; todas as margens 2,5 e impressos em papel A4. No livro de contos, cada CONTO deverá ser iniciado em uma nova página, bem como cada capítulo do ROMANCE deverá ser iniciado em uma nova página. Os textos que estiverem fora da formatação indicada serão automaticamente desclassificados.
6 - Para efetuar sua pré-inscrição online, o participante deverá acessar o site do Prêmio SESC http://www.sesc.com.br/premiosesc e preencher o formulário com as informações pedidas. Será gerado um código verificador, por meio do qual o candidato poderá acessar sua pré-inscrição. Após a validação da pré-inscrição será emitido um e-mail de confirmação contendo os dados cadastrais do inscrito.
7 - O candidato deverá imprimir a ficha de inscrição por meio de consulta ao site, que deverá conter o código verificador, e remetê-la anexada à obra em um envelope lacrado, juntamente com a cópia de um comprovante de residência e a declaração de autenticidade e responsabilidade pelos direitos da obra (conforme modelo presente no site). O envelope deverá ser identificado externamente com PSEUDÔNIMO do autor e TÍTULO da obra.
8 - Durante o processo de inscrição, o candidato deverá utilizar o CPF como forma de identificação. A confidencialidade do número de CPF é de responsabilidade do participante. O SESC não se responsabiliza pelo uso indevido do documento por terceiros.
9 - Ao se inscrever nas duas categorias, o candidato deverá atentar para o fato de que o preenchimento dos dados de cada obra será feito na mesma ficha online. No entanto, as obras de cada categoria deverão ser entregues separadamente, necessitando da impressão da ficha duas vezes.
10 - No caso de inscrição do autor nas duas categorias, para cada uma delas será gerado um código verificador.
11 - Após preenchimento da ficha de inscrição online, o candidato deverá validar os dados informados, a fim de que a pré-inscrição seja efetivada. Caso seja detectada alguma pendência e/ou irregularidade, o participante será comunicado por telefone ou e-mail.
12 - Para verificação dos dados inscritos, o candidato poderá, a qualquer momento do período de inscrições, consultar seu cadastro, utilizando o CPF para o acesso.
13 - A efetivação da inscrição só é realizada com o recebimento da obra pela unidade do SESC. Caso o candidato deseje se inscrever em ambas as categorias, o envio do material deverá ser feito simultaneamente, após a pré-inscrição das duas obras, seguindo as solicitações contidas no item 9 deste dispositivo.
14 - A obra enviada deverá ter entre 130 e 400 páginas, caso seja ROMANCE; e 70 e 200 páginas, caso seja LIVRO DE CONTOS. Para tanto, será rigorosamente observada a formatação determinada no item 5.
15 - As inscrições deverão ser feitas entre 1º de julho e 31 de agosto de 2011. A data que constar no carimbo do correio servirá como comprovante de inscrição no prazo determinado.
16 - As obras somente poderão ser enviadas aos Departamentos Regionais do SESC do Estado de residência do candidato. As obras enviadas a unidades de outro Estado serão automaticamente desclassificadas.
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JULGAMENTO
1 - As obras inscritas serão analisadas por Comissões Julgadoras compostas por escritores, especialistas em literatura, jornalistas e críticos literários, indicados pelo SESC.
2 - A comissão julgadora final atribuirá o Prêmio SESC a uma única obra em cada categoria e poderá indicar até 3 (três) menções honrosas por categoria.
3 - O único critério para seleção das obras vencedoras é o mérito literário, cabendo ao júri final a decisão, que será soberana e não suscetível de apelo.
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PREMIAÇÃO
1 - O resultado do PRÊMIO SESC DE LITERATURA 2011 será divulgado em março de 2012.
2 - O vencedor de cada categoria terá sua obra publicada e distribuída comercialmente pela editora Record, com uma tiragem inicial de 2 mil exemplares.
3 - O autor vencedor de cada categoria terá direito a 10% do valor de capa da obra quando da sua comercialização em livrarias. Parte da primeira edição será adquirida pelo SESC para inserção no acervo de bibliotecas da instituição.
4 - A cerimônia de premiação será realizada no Rio de Janeiro, com data prevista para julho de 2012.
5 - O autor vencedor de cada categoria poderá participar de lançamentos da obra em eventos literários promovidos pelo SESC, que assumirá os custos de locomoção e estada do escritor.
6 - Os autores indicados para menção honrosa receberão um certificado emitido pelo SESC, atestando a qualidade da obra para possível análise e publicação no mercado editorial, além de kits com livros publicados pela editora Record.
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DISPOSIÇÕES GERAIS
1 - As inscrições para o PRÊMIO SESC DE LITERATURA são gratuitas.
2 - Entende-se por romance uma narrativa ficcional longa. E por livro de contos um conjunto de narrativas ficcionais curtas. Não serão aceitas inscrições com apenas um conto.
3 - É vetada a participação de funcionários, estagiários e parentes em até segundo grau de funcionários da Record, do SESC, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo e Federações do Comércio, SENAC, bem como de todos os envolvidos no processo de julgamento do concurso.
4 - Será de responsabilidade do autor o compromisso de que o texto é inédito. Caso seja constatada sua publicação, a inscrição será anulada.
5 - Não serão aceitas inscrições de obras póstumas. A coautoria será aceita apenas para ROMANCE.
6 - Será permitida a inscrição de obra cuja pequena parcela do conteúdo tenha sido publicada em blogs pessoais ou revistas eletrônicas, desde que não ultrapasse 25% do total da obra.
7 - Nenhuma obra enviada será devolvida.
8 - O autor vencedor de cada categoria terá direito a passagem aérea – exceto se for oriundo do estado do Rio de Janeiro – e estada pagas pelo SESC para comparecer à premiação, sem direito a acompanhante.
9 - A companhia aérea e o horário do voo para o Rio de Janeiro serão definidos pelo SESC, que também irá definir o hotel e o número de pernoites a que os dois vencedores terão direito.
10 - Ao se inscrever no PRÊMIO SESC DE LITERATURA, o candidato estará automaticamente concordando que conhece e aceita integralmente os termos deste Edital.
11 - As obras pré-inscritas poderão ser enviadas por correio ou entregues presencialmente nas unidades do SESC em cada Estado, conforme lista divulgada no site do PRÊMIO SESC DE LITERATURA www.premiosesc.com.br/premiosesc .
12 - As pré-inscrições realizadas pelo site só serão efetivadas a partir do recebimento das obras pelas unidades do SESC.
13 - O e-mail de confirmação citado no item 6 das inscrições não será enviado nas seguintes situações: 1) Caso o participante não tenha informado e-mail, 2) Caso o participante tenha informado um e-mail inválido e 3) Caso o e-mail do usuário possua filtro anti-spam. Mesmo não recebendo e-mail de confirmação, o candidato poderá acompanhar o status de sua inscrição pelo site e imprimir o formulário de inscrição normalmente.

8.08.2011

Coperve efetua inscrições do PSS 2012

Fonte: Agência de Notícias da UFPB - Com informações da Coperve
Coperve efetua inscrições do PSS 2012

Poderão ser feitas desta terça-feira (9) até 28 deste mês, pela internet; no total são 8.070 vagas nos cursos presenciais


No período de 09 até 28 deste mês, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) receberá no site www.coperve.ufpb.br as inscrições para os seletivos PSS 2012 (6.240 vagas), Processo Seletivo 2012 para cursos de graduação que exigem prova de conhecimento específico (220 vagas para os cursos de Bacharelado em Música, Licenciatura em Música, Teatro, Artes Visuais, Tradução), e Processo Seletivo 2012 para os cursos superiores sequenciais em Música (Música Popular Regência de Bandas e Fanfarras).

Os editais de inscrição estão disponíveis no site da COPERVE.

Em 2012, a UFPB oferecerá um total de 8.070 vagas em seus cursos presenciais, uma vez que também disponibilizará 1.560 vagas no SiSU/MEC.

Das 6.240 vagas oferecidas pela UFPB no PSS 2012, 70% (4.368) são destinadas à concorrência geral e 30% (1.872) são reservadas a candidatos que tenham cursado todo o Ensino Médio e, pelo menos, três anos do Ensino Fundamental em escola da rede pública.

Em cada curso de graduação, as vagas para egressos da escola pública, em conformidade com a Resolução nº 09/2010/CONSEPE, são reservadas para pessoas com deficiência, negros (pretos e pardos), indígenas e demais egressos da escola pública.

No PSS 2012 também serão ofertadas 50 vagas para o Curso de Formação de Oficiais (CFO), sendo 35 para a formação de oficial policial militar (30 masc. e 05 fem.) e 15 para formação de bombeiro militar (11 masc. e 04 fem.).

De acordo com o Edital nº 001/2011 CFO PM/BM, disponível no site www.pm.pb.gov.br, o candidato ao CFO terá que efetuar duas inscrições: uma, para os Exames Complementares de responsabilidade da Policia Militar, a outra, para as provas do PSS 2012 da UFPB.

Mais informações pelo telefone (83) 3244-1580.

Inscrições do PSS 2011

Fonte: Agência de Notícias da UFPB - Com informações da Coperve
Coperve efetua inscrições do PSS 2012

Poderão ser feitas desta terça-feira (9) até 28 deste mês, pela internet; no total são 8.070 vagas nos cursos presenciais


No período de 09 até 28 deste mês, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) receberá no site www.coperve.ufpb.br as inscrições para os seletivos PSS 2012 (6.240 vagas), Processo Seletivo 2012 para cursos de graduação que exigem prova de conhecimento específico (220 vagas para os cursos de Bacharelado em Música, Licenciatura em Música, Teatro, Artes Visuais, Tradução), e Processo Seletivo 2012 para os cursos superiores sequenciais em Música (Música Popular Regência de Bandas e Fanfarras).

Os editais de inscrição estão disponíveis no site da COPERVE.

Em 2012, a UFPB oferecerá um total de 8.070 vagas em seus cursos presenciais, uma vez que também disponibilizará 1.560 vagas no SiSU/MEC.

Das 6.240 vagas oferecidas pela UFPB no PSS 2012, 70% (4.368) são destinadas à concorrência geral e 30% (1.872) são reservadas a candidatos que tenham cursado todo o Ensino Médio e, pelo menos, três anos do Ensino Fundamental em escola da rede pública.

Em cada curso de graduação, as vagas para egressos da escola pública, em conformidade com a Resolução nº 09/2010/CONSEPE, são reservadas para pessoas com deficiência, negros (pretos e pardos), indígenas e demais egressos da escola pública.

No PSS 2012 também serão ofertadas 50 vagas para o Curso de Formação de Oficiais (CFO), sendo 35 para a formação de oficial policial militar (30 masc. e 05 fem.) e 15 para formação de bombeiro militar (11 masc. e 04 fem.).

De acordo com o Edital nº 001/2011 CFO PM/BM, disponível no site www.pm.pb.gov.br, o candidato ao CFO terá que efetuar duas inscrições: uma, para os Exames Complementares de responsabilidade da Policia Militar, a outra, para as provas do PSS 2012 da UFPB.

Mais informações pelo telefone (83) 3244-1580.

7.30.2011

O Pagador de Promessas



1. Aspectos estruturais

Trata-se de um texto escrito para teatro, ou seja, para ser levado ao palco, ser encenado. A peça é dividida em três atos, sendo que os dois primeiros ainda são subdivididos em dois quadros cada um. Após a apresentação dos personagens, o primeiro ato mostra a chegada do protagonista Zé do Burro e sua mulher Rosa, vindos do interior, a uma igreja de Salvador e termina com a negativa do padre em permitir o cumprimento da promessa feita. O segundo ato traz o aparecimento de diversos novos personagens, todos envolvidos na questão do cumprimento ou não da promessa e vai até uma nova negativa do padre, o que ocasiona, desta vez, explosão colérica em Zé do Burro. O terceiro ato é onde as ações recrudescem, as incompreensões vão ao limite e se verifica o dramático desfecho.

2. Enredo

Primeiro ato. Primeiro quadro.

A ação da peça tem início nas primeiras horas da manhã [4 e meia], numa praça, em frente a uma igreja, em Salvador. O personagem denominado Zé do Burro carrega uma cruz e se aloja na frente da igreja. A seu lado Rosa, sua mulher, apresentada como tendo 'sangue quente' e insatisfação sexual. Zé espera a igreja abrir para cumprir sua promessa, feita a Santa Bárbara. Aparecem no lugar, algum tempo depois, Marli e Bonitão: ela prostituta; ele, gigolô. Há uma clara relação de exploração e dependência entre eles. Encontrando Zé, Bonitão dirige-se a ele e percebe ser alguém ingênuo. Rosa, por sua vez, conversando com o gigolô, queixa-se de Zé, contando que ele, na sua promessa, dividiu suas terras com lavradores pobres. Percebendo a ingenuidade, Bonitão propõe-se a providenciar um local para Rosa descansar. Zé não só aceita, como incentiva. Saem os dois, Bonitão e Rosa, de cena.

Segundo quadro.

Aos poucos, começa o movimento ao redor da praça. Aparecem a Beata, o sacristão e o Padre Olavo, titular da igreja. Zé explica a promessa: Nicolau foi ferido com a queda de uma árvore; estando para morrer, Zé fez a promessa. O burro - Nicolau é um burro! - salva-se. Ingenuamente, Zé revela ter usado as rezas de Preto Zeferino e feito a promessa num terreiro de candomblé, a Iansã, equivalente afro de Santa Bárbara. O padre fica escandalizado. Estabelece-se o conflito. O sincretismo Iansã-Santa Bárbara, natural para Zé do burro, é um grandioso pecado para o padre. A situação agrava-se com a revelação da divisão de terras. Impasse. O padre manda fechar a igreja e proíbe o cumprimento da promessa. Zé do burro fica atônico.

Segundo ato. Primeiro quadro.

Duas horas mais tarde, já a movimentação no lugar é intensa. O Galego, dono do bar, abriu seu estabelecimento. Surgem Minha Tia, vendedora de acarajés, carurus e outras comidas típicas, Dedé Cospe-Rima, poeta popular, ao estilo repentista e o Guarda. Zé do burro quer cumprir a promessa. O Guarda tenta intervir. Rosa reaparece com 'ar culpado'. Chega o Repórter. Seguindo a linha do oportunismo sensacionalista, o repórter quer tirar vantagens da história de Zé do Burro. Quer torná-lo um mártir, para virar notícia. Enquanto isso descobre-se que Rosa transou com Bonitão. Marli faz um pequeno escândalo, denunciando a história Rosa-Bonitão.

Segundo quadro.

Três da tarde, Dedé oferece poemas para Zé, a fim de derrotar o Padre. Aparecem, em momentos subseqüentes, o capoeirista Mestre Coca e o policial, o Secreta, chamado por Bonitão, ficando ambos, por enquanto, nas cercanias. Zé começa a perder a paciência e arma uma gritaria. O padre reage. Chega o Monsenhor, autoridade da igreja, propondo a Zé uma solução: ele, Monsenhor, na qualidade de representante da Igreja, pode liberar Zé da promessa, dando-a por cumprida. Zé não aceita, dizendo que promessa foi feita à Santa e só ela poderia liberá-lo. Segue o impasse. Zé explode novamente e avança com a cruz sobre a Igreja. O padre fecha a porta. Zé, já desesperado, bate com a cruz na porta. O drama é total.

Terceiro ato.

Entardecer. Muita gente na praça e nos arredores da Igreja. Há uma roda de capoeira. O Galego, oportunista, oferece comida grátis a Zé, pois a história está trazendo movimento ao seu bar. O Secreta, no bar, avisa que a polícia prenderá Zé, ameaçando os capoeiristas, caso eles interfiram. Marli volta. Ofende Rosa, ofende Zé. O protagonista parece mudar de atitude. Resolve ir embora 'à noite'. Rosa quer ir embora já. Conta que Bonitão avisou a polícia. Retorna o repórter, que tenta montar um verdadeiro circo em torno do Zé, com o objetivo de vender o jornal. Chega Bonitão e convida Rosa para ir com ele. Zé pede a ela para ficar. Rosa hesita, a princípio, mas, em seguida, vai com Bonitão. Mestre Coca avisa Zé sobre a chegada da polícia. Zé está perplexo: 'Santa Bárbara me abandonou'. Da igreja saem o Sacristão, o Guarda, o Padre e o Delegado. Tensão da cena acentua-se. Zé ainda tenta, ingênua e inutilmente, explicar alguma coisa. Ao ser cercado, puxa uma faca. As autoridades reagem. Os capoeiristas também. Briga e confusão. De repente, um tiro espalha gente para todos os lados. Zé é mortalmente ferido. Mestre Coca olha para os companheiros, que entendem a mensagem. Os capoeiristas tomam o corpo do Zé colocam-no sobre a cruz e, ignorando padre e polícia entram na igreja, carregando a cruz.

3. Comentário

A peça de Dias Gomes tem nítidos propósitos de evidenciar certas questões socio-culturais da vida brasileira, em detrimento do aprofundamento psicológico de seus personagens. Assim, ganha força no drama a visão crítica quanto:

a] à intolerância da Igreja católica, personificada no autoritarismo do Padre Olavo, e na insensibilidade do Monsenhor convocado a resolver o problema;

b] à incapacidade das autoridades que representam o Estado - no episódio, a polícia - de lidar com questões multiculturais, transformando um caso de diferença cultural em um caso policial;

c] à voracidade inescrupulosa da imprensa, simbolizada no Repórter, um perfeito mau-caráter, completamente desinteressado no drama do protagonista, mas muito interessado na repercussão que a história pode ter;

d] ao grande fosso que separa, ainda, o Brasil urbano do Brasil rural: Zé do Burro não consegue compreender por que lhe tentam impedir de cumprir sua promessa; os padres, a polícia, a imprensa não conseguem compreender quem é Zé do Burro, sua origem ingênua, com outros códigos culturais, outras posturas. Além disso, a peça mostra as variadas facetas populares: o gigolô esperto, a vendedora de quitutes, o poeta improvisador, os capoeiristas. O final simbólico aponta em duas direções. Em primeiro lugar a morte do Zé do Burro mostra-se com fim inevitável para o choque cultural violento que se opera na peça: ninguém, entre as autoridades da cidade grande, é capaz de assimilar o sincretismo religioso tão característico de grandes camadas sociais no Brasil, especialmente no interior nordestino. Em segundo lugar, a entrada dos capoeiristas na igreja, carregando a cruz com o corpo, sinaliza para rechaçar a inutilidade daquela morte: os populares compreenderam o gesto de Zé do Burro.

Missal e Broquéis, de Cruz e Souza

Missal e Broquéis, de Cruz e Souza

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Análise da obra

A publicação das obras Missal e Broquéis em 1893, marca o início do Simbolismo no Brasil. Missal e Broquéis só não passaram despercebidas, enquanto obras, por força de uma pequena parte da crítica e de um público ainda mais restrito. O mérito só veio com o tempo e com o reconhecimento da genialidade de seu autor. Cabe lembrar que a poesia brasileira praticamente desconhecia a prosa entre suas publicações, poucos ou quase ninguém havia lido Charles Baudelaire, aliás um dos iniciadores do Simbolismo, o que obrigou a um certo estranhamento quanto a Missal. Mesmo Broquéis recebeu do público e da crítica opiniões divergentes. Foi atacado por José Veríssimo e exaltado por Sílvio Romero, e pareceu chocar os leitores acostumados com a poesia parnasiana, nitidamente dominadora naquele momento.

Os poemas de Cruz e Sousa abandonam o significado explícito e lógico para buscar a ilogicidade e a sugestão vaga, regras, aliás, de fundamental importância para a poética simbolista. A multiplicidade de imagens e de sonoridades gera uma explosão sensorial no leitor, conduzindo-o a um estado de espanto geral e de choque diante do inusitado. As imagens, aparentemente inconciliáveis, múltiplas e repetidas, despertam um psiquismo intenso. Essa fusão de abstrações cria o sensorialismo simbolista e faz brotar a novidade.

Alguns textos comentados de Missal

Os poemas de Missal são escritos em prosa. O Simbolismo ainda é algo latente nessas realizações, não atingindo o grau de musicalidade, plasticidade e sugestão desejados. Por ser ainda a primeira obra de Cruz e Sousa na linha simbolista, não consegue atingir a sublimidade e a alquimia verbal de suas realizações posteriores. Vale mais como registro do que realmente como referência do Simbolismo no Brasil. Mesmo que saibamos da influência da poesia em prosa de Charles Baudelaire sobre Cruz e Sousa, são raros os momentos de genialidade dessa obra, se compararmos com os textos do grande mestre francês. Essas influências são ainda tênues, mais frutos da paixão do que da inspiração irmanada. Falta, sem dúvida, o brilho e os rasgos da impetuosidade baudelairiana a Cruz e Sousa nesses poemas. Essa força só poderá ser melhor admirada, indiscutivelmente, nos versos de Broquéis.

Ainda que não nos caiba julgar os motivos que levaram à adoção de Missal, não nos parece coerente essa decisão dos examinadores que, ao contrário de atrair os jovens leitores. tende a afastá-los ainda mais desse grande poeta que é Cruz e Sousa.

Texto 1 - Oração ao Sol

Sol, rei astral, deus dos sidéreos Azuis, que fazes cantar de luz os prados verdes, cantar as águas! Sol imortal, pagão, que simbolizas a Vida, a Fecundidade! Luminoso sangue original que alimentas o pulmão da Terra, o Seio virgem da Natureza! Lá do alto zimbório catedralesco de onde refulges e triunfas, ouve esta Oração que te consagro neste branco Missal da excelsa Religião da Arte, esmaltado no marfim ebúrneo das iluminuras do Pensamento.

Permite que um instante repouse na calma das Idéias, concentre cultualmente o Espírito, como no recolhido silêncio de igrejas góticas, e deixe lá fora, no rumor do mundo, o tropel infernal dos homens ferozmente rugindo e bramando sob a cerrada metralha acesa das formidandas paixões sangrentas.

...............................................................................................................................

Ó radiante orientalista do firmamento! Supremo artista grego das formas indeléveis e prefulgentes da Luz! pelo exotismo asiático desses deslumbramentos, pelos majestosos cerimoniais da basílica celeste a que tu presides, que esta Oração vá, suba e penetre os etéreos paços esplendorosos e lá para sempre vibre, se eternize através das forças firmes, num som álacre, cantante, de clarim proclamador e guerreiro.

Comentários: Esse longo poema em prosa representa uma espécie de ‘profissão de fé’ dentro da obra de Cruz e Sousa, já que estabelece muitíssimo bem sua intenção simbolista. O mesmo ocorre no poema de abertura de Broquéis, Antífona”. E interessante destacar que essa invocação do sol tem a força de uma oração ou pedido para realizar seus poemas sem a interferência daqueles que detêm o poder sobre o mundo dos homens e das artes. O mesmo ocorre na epígrafe de Baudelaire utilizada em Broquéis.

Texto 2 - Os Cânticos

No templo branco, que os mármores augustos e as cinzeluras douradas esmaltam e solenizam com resplandecência, dentre a profusão suntuosa das luzes, suavíssimas vozes cantam.

Coros edênicos inefavelmente desprendem-se de gargantas límpidas, em finas pratas de som, que parecem dar ainda mais brancura e sonoridade à vastidão do templo sonoro.

E as vozes sobem claras, cantantes, luminosas como astros.

Cristos aristocráticos de marfim lavrado, como fidalgos e desfalecidos príncipes medievos apaixonados, emudecem diante dos Cânticos, da grande exaltação de amor que se desprende das vozes em fios sutilíssimos de voluptuosa harmonia.

O seu sangue delicado, ricamente trabalhado) em rubim, mais viso, mais luminoso e vermelho fulge ao clarão das velas.

Dir-se-ia que esse rubim de sangue palpita, aceso mais intensamente no colorido rubro pele luxúria dos Cânticos, que despertam, ciliciando, todas as virgindades da Carne.

Fortes, violentas rajadas de sons perpassam convulsamente nos violoncelos, enquanto que as vozes se elevam, sobem, num veemente desejo, quase impuras, maculadas quase, numa intenção de nudez.

E, através da volúpia das sedas e damascos pesados que ornamentam o templo, das luzes adormentadoras. dos perturbadores incensos, da opulência festiva dos paramentos dos altares e dos sacerdotes, das egrégias músicas sacras, sente-se impressionativamente pairar em tudo a volúpia maior - a volúpia branca dos Cânticos.

Comentários: Apesar de empregar o misticismo e algumas palavras do vocabulário simbolista, o texto mostra nítida inspiração parnasiana. principalmente por sua construção de imagens mais precisas e detalhadas. Em certos momentos, sentimo-nos diante de um poema de construção clássica, até mesmo pelo rigor descritivo e pela economia de figuras.

Estrutura de Broquéis

Broquéis apresenta 54 poemas, sendo 47 sonetos. Os versos são decassílahos rimados, variando-se o esquema de rimas.

Esboços de atmosfera vaga: Em Sonhos, Monja, Carnal e Místico, Lua, Primeira Comunhão, Velhas Tristezas, Vesperal, Cristais, Sinfonias do Ocaso, Música Misteriosa, Ângelus, Sonata, Incensos e Luz Dolorosa. Nesses poemas há predominância do branco, imagens cósmicas e uma musicalidade etérea.

Metalinguagem

Antífona, Siderações, Clamando, Sonho Branco, Torre de Ouro, Sonhador, Foederis Arca, Post Mortem, Supremo Desejo e Tortura Eterna. Nesses poemas há a tematização do ato poético ou da condição do poeta. Em todos eles, busca-se valorizar as intenções da poesia simbolista: vaga, abstrata, musical, sensorial.

Erotismo sensual

Lésbia, Múmia, Lubricidade, Braços, Encarnação, Tulipa Real, Dança do Ventre, Dilacerações, Sentimentos Carnais e Serpente de Cabelos. Em Cruz e Sousa, o erotismo é algo densamente carnal, de natureza física. Com isso, as imagens de sensualidade perdem algumas vezes o caráter vago da poesia simbolista para aproximarem-se mais do Expressionismo, devido mesmo a certas deformações e acumulações metafóricas. Sua influência, entretanto, é Baulelaire.

Erotismo espiritual

Canção da Formosura, Beleza Morta, Deusa Serena, Flor do Mar, Alda e Lembranças Apagadas. Nesses poemas, o amor é platonizado, ganhando dimensão mais etérea e abstrata. Os tons bruscos e rudes do erotismo sensual desvanecem se, atingindo luminosidades e retomando os matizes variados do branco.

Retratos extravagantes

Satã, Afra, Judia, Tuberculosa, Regenerada, Rebelado e Majestade Caída. Esses poemas mostram imagens algumas vezes radicalmente fortes, traços de anormalidade ou extravagância são acentuados. A exceção fica por conta de “Tuberculosa”, cuja composição é nitidamente simbolista. Os demais denotam influência parnasiana.

Visões místicas

Cristo de Bronze, Regina Coeli, Noiva da Agonia, Visão da Morte e Aparição. Esse grupo de poemas traduz claramente o misticismo simbolista.

Alegorias pessimistas

A Dor e Acrobata da Dor. Os dois poemas mostram tendência parnasiana. O segundo emprega “sintaxe meio clássica” e talvez seja a composição mais parnasiana de Broquéis, o que em nada perturba o seu virtuosismo sonoro.

Análise de Broquéis

Primeiramente, devemos levar em conta que Cruz e Sousa foi chamado pelo crítico Tristão de Ataíde de “poeta solar”, por causa da predominância do branco e de claridades em seus poemas. Usando e abusando de substantivos e adjetivos que denotam a presença quase constante do branco em todos os seus matizes, Cruz e Sousa deixou patente sua obsessão por essa cor, chegando, em certos momentos, a tornar evidente para os leitores a sugestão de vazio. Essa era a pretensão do Simbolismo enquanto estética: chegar ao vago absoluto, à imprecisão completa. Os versos abaixo, que abrem o livro, são um bom exemplo disso:

"Ó Formas alvas, brancas. Formas claras

De luares, de neves, de neblinas!...

Ó Formas vagas, tinidas, cristalinas...

Incensos dos turíbulos das aras..." (Antífona)

Afinal, do que estará o poeta falando? De nada, já que sua intenção é justamente criar o inusitado, a sugestão absoluta do branco. Para tanto, emprega redundantemente expressões e palavras que sugerem clareza: “alvas”, “brancas”, “claras”, “de luares”, “de neves”, “de neblinas”. Deixa ainda mais patente a busca do vago em: “formas vagas”, “fluidas”, “cristalinas”. “Incensos”. Já transparece aqui outro recurso predominante na poética desse simbolista, que é o emprego de vocabulário das liturgias religiosas: “turíbulos” e “aras”, ou seja, vasos utilizados nas celebrações para se queimar incenso e os próprios altares dessas liturgias.

Aproveitaremos os mesmos versos para falarmos da musicalidade, outra característica simbolista. A musicalidade desses versos nasce de três decorrências:

A primeira é aparente - o emprego das rimas (esquema ABBA), que brota da influência clássica do Parnasianismo e que não foi abandonada por Cruz e Sousa quanto aos aspectos formais do poema. Devemos notar que ele emprega rimas ricas. No caso, adjetivo e substantivo, entre o primeiro e o quarto versos, e substantivo e adjetivo, entre o segundo e terceiro versos.

A segunda nasce do emprego de uma figura de construção, a assonância, muito utilizada no Simbolismo, que consiste na repetição da vogal, no caso a vogal “a”, como podemos perceber no primeiro verso: “Ó Formas alvas, brancas, Formas claras”

A terceira, bem menos evidente que as demais, surge com o emprego dos versos harmônicos, que consistiriam num processo de justaposição cumulativa de imagens e “de sons simultâneos, de palavras isoladas que vibram sem conexão sintática”. Os versos que compõem a estrofe não apresentam verbos, são frases nominais, que parecem se unir numa densa imagem ilógica, abstrata, mas que mantêm uma cadência sonora. Cada expressão ou palavra parece vibrar e ganhar sentido no termo seguinte, criando uma densa melodia. Esse esquema de construção predomina em Broquéis.

Outros temas representam verdadeira obsessão em Cruz e Sousa e, por conseqüência em Broquéis: amor, morte, sonho, fantasia, quimera, mulher, crepúsculo, lírio, noite, música. O amor e a morte são evidentes heranças românticas, já que o Simbolismo representa uma retomada do “mal do século”. Entretanto, encontramos uma predominância do erotismo sobre o platonismo. Em vários momentos a imagem de pureza da mulher não consegue evitar que o eu-lírico extrapole seus idealismos e exponha seus desejos carnais. Símbolo maior desse erotismo, que povoa a poesia de Cruz e Sousa, encontramos em Lésbia, sua representação máxima:

“Cróton selvagem, tinhorão lascivo,

Planta mortal, carnívora, sangrenta.

Da tua carne báquica rebenta

A vermelha explosão de um sangue vivo.”

Nem sempre, porém, a mulher é vista como um ser carnal e corpóreo, sendo algumas vezes representada pela feminilidade da lua, por exemplo:

“Então, ó Monja branca dos espaços,

Parece que abres para mim os braços,

Fria, de joelhos, trêmula, rezando...” (Monja)

“E ondulam névoas. cetinosas rendas

De virginais, de prónubas alvuras...

Vagam aladas e visões e lendas

No flórido noivado das Alturas...(Lua)

Essa tendência para a personificação ou prosopopéia aparece também em vários outros poemas.

Outra característica de Broquéis é o emprego da sinédoque, já que o poeta utiliza partes do corpo humano para representá-lo inteiro:

“Braços nervosos, brancas opulências.

Brumais brancuras, fúlgidas brancuras,

Alvuras castas, virginais alvuras,

Lactescências das raras lactescências.” (Braços)

Outro elemento importante em toda a obra é o misticismo, que se apresenta numa intensidade quase dominante na maior parte dos poemas. A alma do poeta parece repleta de uma mística que segue o ritual de suas imagens, quase sempre aéreas, voláteis. Mesmo o elemento mundano sofre profunda transforrnação, ganhando leveza e brilho. Uma misteriosa música parece dominar os sentidos, refletindo os acordes de um hino religioso. Por isso os poemas assemelham-se tanto, são compassos de uma mesma música que vai conduzindo o leitor pelo universo mais íntimo do artista. Mesmo o vocabulário, tantas vezes repetido denota que o acorde de um verso, de um poema, parece continuar em outro, tantas vezes repetido, como num ladainha que vai ganhando intensidade e novas cores. Esse processo reiterativo é enfim um recurso formal que possibilita o entendimento de Broquéis.

“Pelos raios fluídicos, diluentes

Dos Astros, pelos trêmulos velários,

Cantam Sonhos de místicos templários,

De ermitões e de ascetas reverentes...

Cânticos vagos, infinitos, aéreos

Fluir parecem dos Azuis etéreos.

Dentre os nevoeiros do luar tinindo...” (Música Misteriosa)

Em diversos poemas, encontramos a presença da metalinguagem, ou seja, o discurso poético voltado ao seu próprio fazer. Tomamos como exemplo uma estrofe de Antífona que é uma espécie de profissão de fé do Simbolismo:

“Que o pólen de ouro dos mais finos astros

Fecunde e inflame a rima clara e ardente...

Que brilhe a correção dos alabastro

Sonoramente, luminosamente.”

Toda essa inventividade lingüística gerou um certo espanto no público da época e ainda vem arrancando exclamações dos leitores incrédulos diante dessa polifonia simbolista. Mas, estejamos certos de que é do novo que brota a modernidade, é do espanto que nascem a genialidade e a criatividade e é de tudo isso que germina a poesia etérea e misteriosa de Cruz e Sousa.

Alguns textos comentados de Broquéis

Antífona

Ó Formas alvas, brancas. Formas claras

De luares, de neves, de neblinas!...

Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...

Incensos dos turíbulos das aras...

Formas do Amor, constelarmente puras,

De Virgens e de Santas vaporosas...

Brilhos errantes, mádidas frescuras

E dolências de lírios e de rosas...

Indefiníveis músicas supremas.

Harmonias da Cor e do Perfume

Horas do Ocaso, trêmulas, extremas.

Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Visões, salmos e cânticos serenos,

Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...

Dormências de volúpicos venenos

Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...

Infinitos espíritos dispersos,

Inefáveis, edênicos, aéreos,

Fecundai o Mistério destes versos

Com a chama ideal de todos os mistérios.

Do Sonho as mais azuis diafaneidades

Que fuljam, que na Estrofe se levantem

E as emoções, todas as castidades

Da alma do Versos, pelos versos cantem.

Que o pólen de ouro dos mais finos astros

Fecunde e inflame a rima clara e ardente...

Que brilhe a correção dos alabastros

Sonoramente, luminosamente.

Forças originais, essência, graça

De carnes de mulher, delicadezas...

Todo esse eflúvio que por ondas passa

Do Éter nas róseas e áureas correntezas...

Cristais diluídos de clarões álacres,

Desejos, vibrações, ânsias, alentos,

Fulvas vitórias, triunfamentos acres,

Os mais estranhos estremecimentos...

Flores negras do tédio e flores vagas

De amores vãos, tantálicos, doentios...

Fundas vermelhidões de velhas chagas

Em sangue, abertas, escorrendo em rios...

Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,

Nos turbbilhões quiméricos do Sonho,

Passe, cantando, ante o perfil medonho

E o tropel cabalístico da Morte...

O poema em versos decassílabos dispostos em quadras (ou quartetos) é uma espécie de "profissão de fé" da poesia simbolista, verdadeiro texto-programa das intenções de Cruz e Sousa. Nele encontramos os objetivos da poética decadentista, tais como o absolutamente vago, a musicalidade, o misticismo, a evasão e o pessimismo. O título significa um versículo recitado antes de um salmo, o que por si só já traduz o misticismo do autor. O poema, como um todo, segue a proposta de Verlaine de apenas sugerir e nunca nomear os objetos. Está também presente a metalinguagem, já que há uma verdadeira exaltação à forma e à função da palavra. Estão ainda presentes a sinestesia, as aliterações e as assonâncias. A predominância de frases nominais sugere a presença dos versos harmônicos, já que o primeiro verbo só aparecerá no final da terceira estrofe. O "poeta solar" já deixa também evidente sua predileção exagerada pelo branco, sugerido na primeira estrofe em todos os seus matizes.

Texto 2 - Siderações

Para as Estrelas de cristais gelados

As ânsias e os desejos vão subindo,

Galgando azuis e siderais noivados

De nuvens brancas a amplidão vestindo...

Num cortejo de cânticos alados

Os arcanjos. cítaras ferindo,

Passam, das vestes nos troféus prateados,

As asas de ouro finamente abrindo...

Dos etéreos turíbulos de neve

Claro incenso aromal. límpido e leve.

Ondas nevoentas de Visões levanta...

E as ânsias e os desejos infinitos

Vão com os arcanjos formulando ritos

Da eternidade que nos Astros canta...

Comentários: O soneto em versos decassílabos representa bem o caráter vago da poesia de Cruz e Sousa, que procura construir através do cruzamento de sensações (sinestesias) imagens sugestivas do céu. O caráter abstrato é obtido pelo emprego da visão (emprego de cores e luminosidades), audição (sons de instrumentos e cânticos) e olfato (aroma do incenso). É interessante notarmos que o ritmo do poema é lento, acompanhando uma espécie de bailado em forma ascendente até soltar-se completamente no último verso.

Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães

Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães

A obra Suspiros Poéticos e Saudades, publicada em 1836, foi considerada a obra inaugural do Romantismo no Brasil. O autor procurou criar e consolidar uma literatura nacional para o país. É dividida em duas partes: "suspiros poéticos" e “saudades”.

A primeira parte é constituída de 43 poemas sobre os mais diversos temas, tais como a própria poesia, o cristianismo, a mocidade, a fantasia, ou ainda diversas impressões sobre lugares, fatos e figuras da história. Em grande parte dos poemas há indicações de onde foram escritos, fazendo com que possamos relacionar a partir daí os diversos países nos quais o poeta esteve: Brasil, Bélgica, Suíça, França, Itália. É uma espécie de literatura poética de viagens, que, na época, deve ter fascinado muito aos jovens brasileiros. Estes, em sua grande maioria, não podiam fazer o que fizera o autor dos Suspiros Poéticos, isto é, escrever em Waterloo um poema sobre Napoleão, em Roma um poema sobre as ruínas daquela cidade, em Ferrara uns versos sobre o cárcere de Tasso.

O livro de Magalhães, se não primava pela qualidade dos versos, unia a poesia e a experiência, a arte e a vivência, sendo, enfim, o exemplo maior do versejar ao gosto da aventura, do novo, do exótico, ao mesmo tempo que expressava a experiência do Eu em contato direto com a cultura erudita européia, sacralizada aos olhos dos românticos brasileiros.

Também a experiência pessoal, o contato com os amigos, faz-se presente no livro. O poema A meu amigo D. J. G. de Magalhães provavelmente não foi escrito pelo próprio Magalhães, já que foi a ele endereçado. Teria sido composto, possivelmente, por Manuel de Araújo Porto Alegre, pois, no livro, o poema que se segue intitula-se Em resposta a meu amigo M. de Araújo Porto Alegre, sugerindo um diálogo entre os dois textos. Mas nada aí está muito claro, principalmente para o leitor leigo, que desconhece o hábito de os românticos trocarem esse tipo de “correspondência” poética nas próprias obras. Teria sido bem-vinda uma nota explicativa, por parte de Sousa da Silveira ou mesmo da parte dos editores posteriores, sobre a autoria do poema.

A segunda parte é dedicada, como o próprio título declara, à saudade, evocando em 12 poemas a pátria, a família, os amigos, enfim, pessoas, fatos e lugares caros ao poeta e dele apartados. Todavia, segundo Antonio Candido, o saudosismo de Magalhães não transcende à saudade do “menino manhoso longe da mãe”. De qualquer modo, o tema ganhou larga aceitação no romantismo brasileiro, e muitos irão chorar a falta da mãe genitora, da mãe pátria, da amada, do amigo, etc.

O primeiro manifesto teórico do nosso Romantismo é o Prólogo de Suspiros Poéticos e Saudades:

Suspiros Poéticos e Saudades

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(Prefácio aos Suspiros Poéticos e Saudades)

Pede o uso que se dê um prólogo ao Livro, como um pórtico ao edifício; e como este deve indicar por sua construção a que Divindade se consagra o templo, assim deve aquele designar o caráter da obra. Santo uso de que nos aproveitamos, para desvanecer alguns preconceitos, que talvez contra este Livro se elevem em alguns espíritos apoucados.

É um Livro de Poesias escritas segundo as impressões dos lugares; ora assentado entre as ruínas da antiga Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora no cimo dos Alpes, a imaginação vagando no infinito como um átomo no espaço, ora na gótica catedral, admirando a grandeza de Deus, e os prodígios do Cristianismo; ora entre os ciprestes que espalham sua sombra sobre túmulos; ora enfim refletindo sobre a sorte da Pátria, sobre as paixões dos homens, sobre o nada da vida. São poesias de um peregrino, variadas como as cenas da Natureza, diversas como as fases da vida, mas que se harmonizam pela unidade do pensamento, e se ligam como os anéis de uma cadeia; poesias d'alma, e do coração, e que só pela alma e o coração devem ser julgadas.

Quem ao menos uma vez separou-se de seus pais, chorou sobre a campa de um amigo, e armado com o bastão de peregrino, errou de cidade em cidade, de ruína em ruína, como repudiado pelos seus; quem no silêncio da noite, cansado de fadiga, elevou até Deus uma alma piedosa, e verteu lágrimas amargas pela injustiça, e misérias dos homens; quem meditou sobre a instabilidade das coisas da vida, e sobre a ordem providencial que reina na história da Humanidade, como nossa alma em todas as nossas ações; esse achará um eco de sua alma nestas folhas que lançamos hoje a seus pés, e um suspiro que se harmonize com o seu suspiro.

Para bem se avaliar esta obra, três coisas releva notar: o fim, o gênero, e a forma.

O fim deste Livro, ao menos aquele a que nos propusemos, que ignoramos se o atingimos, é o de elevar a Poesia à sublime fonte donde ela emana, como o eflúvio d'água, que da rocha se precipita, e ao seu cume remonta, ou como a reflexão da luz ao corpo luminoso; vingar ao mesmo tempo a Poesia das profanações do vulgo, indicando apenas no Brasil uma nova estrada aos futuros engenhos.

A Poesia, este aroma d'alma, deve de contínuo subir ao Senhor; som acorde da inteligência deve santificar as virtudes, e amaldiçoar os vícios. O poeta, empunhando a lira da Razão, cumpre-lhe vibrar as cordas eternas do Santo, do Justo, e do Belo.

Ora, tal não tem sido o fim da maior parte dos nossos poetas; e o mesmo Caldas, o primeiro dos nossos líricos, tão cheio de saber, e que pudera ter sido o reformador da nossa Poesia, nos seus primores d'arte, nem sempre se apoderou desta idéia. Compõe-se uma grande parte de suas obras de traduções; e quando ele é original causa mesmo dó que cantasse o homem selvagem de preferência ao homem civilizado, como se aquele a este superasse, como se a civilização não fosse obra de Deus, a que era o homem chamado pela força da inteligência com que a Providência dos mais seres o distinguira!

Outros apenas curaram de falar aos sentidos; outros em quebrar todas as leis da decência!

Seja qual for o lugar em que se ache o poeta, ou apunhalado pelas dores, ou ao lado de sua bela, embalado pelos prazeres; no cárcere, como no palácio; na paz, como sobre o campo da batalha, se ele é verdadeiro poeta, jamais deve esquecer-se de sua missão, e acha sempre o segredo de encantar os sentidos, vibrar as cordas do coração, e elevar o pensamento nas asas da harmonia até às idéias arquétipas.

O poeta sem religião, e sem moral, é como o veneno derramado na fonte, onde morrem quantos aí procuram aplacar a sede.

Ora, nossa religião, nossa moral é aquela que nos ensinou o Filho de Deus, aquela que civilizou o mundo moderno, aquela que ilumina a Europa, e a América e só este bálsamo sagrado devem verter os cânticos dos poetas brasileiros.

Uma vez determinado e conhecido o fim, o gênero se apresenta naturalmente. Até aqui, como só se procurava fazer uma obra segundo a Arte, imitar era o meio indicado: fingida era a inspiração, e artificial o entusiasmo. Desprezavam os poetas a consideração se a Mitologia podia, ou não, influir sobre nós. Contanto que dissessem que as Musas do Hélicon os inspiravam, que Febo guiava seu carro puxado pela quadriga, que a Aurora abria as portas do Oriente com seus dedos de rosas, e outras tais e quejandas imagens tão usadas, cuidavam que tudo tinham feito, e que com Homero emparelhavam; como se pudesse parecer belo quem achasse algum velho manto grego, e com ele se cobrisse. Antigos e safados ornamentos, de que todos se servem, a ninguém honram!

Quanto à forma, isto é, a construção, por assim dizer, material das estrofes, e de cada cântico em particular, nenhuma ordem seguimos; exprimindo as idéias como elas se apresentaram, para não destruir o acento da inspiração; além de que, a igualdade dos versos, a regularidade das rimas, e a simetria das estâncias produz uma tal monotonia, e dá certa feição de concertado artificio que jamais podem agradar. Ora, não se compõe uma orquestra só com sons doces e flautados; cada paixão requer sua linguagem própria, seus sons imitativos, e períodos explicativos.

Quando em outro tempo publicamos um volume das Poesias da nossa infância, não tínhamos ainda assaz refletido sobre estes pontos, e em quase todas estas faltas incorremos; hoje, porém, cuidamos ter seguido melhor caminho. Valha-nos ao menos o bom desejo, se não correspondem as obras ao nosso intento; outros mais mimosos da Natureza farão o que não nos é dado.

Algumas palavras acharão neste Livro que nos Dicionários Portugueses se não encontram; mas as línguas vivas se enriquecem com o progresso da civilização, e das ciências, e uma nova idéia pede um novo termo.

Eis as necessárias explicações para aqueles que lêem de boa fé, e se aprazem de colher uma pérola no meio das ondas; para aqueles, porém, que com olhos de prisma tudo decompõem, e como as serpentes sabem converter em veneno até o néctar das flores, tudo é perdido; o que poderemos nós dizer-lhes?.. . Eis mais uma pedra onde afiem suas presas; mais uma taça onde saciem sua febre de escárnio.

Este Livro é uma tentativa, é um ensaio; se ele merecer o público acolhimento, cobraremos ânimo, e continuaremos a publicar outros que já temos feito, e aqueles que fazer poderemos com o tempo.

É um novo tributo que pagamos à Pátria, enquanto lhe não oferecemos coisa de maior valia; é o resultado de algumas horas de repouso, em que a imaginação se dilata, e a atenção descansa, fatigada pela seriedade da ciência.

Tu vais, oh Livro, ao meio do turbilhão em que se debate nossa Pátria; onde a trombeta da mediocridade abala todos os ossos, e desperta todas as ambições; onde tudo está gelado, exceto o egoísmo: tu vais, como uma folha no meio da floresta batida pelos ventos do inverno, e talvez tenhas de perder-te antes de ser ouvido, como um grito no meio da tempestade.

Vai; nós te enviamos, cheio de amor pela Pátria, de entusiasmo por tudo o que é grande, e de esperanças em Deus, e no futuro.

Adeus!

Paris, julho de 1836.

Canaã;de Graça Aranha

Canaã
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[Graça Aranha]

I- O Autor:

José Pereira da Graça Aranha nasceu em São Luís do Maranhão a 21/06/1848, tendo sido juiz e diplomata. Uma influência intelectual decisiva em sua obra é a de Tobias Barreto, que conheceu em 1882 enquanto cursava Direito no Recife. Formou-se em direito seis anos depois e mais quatro anos após exerceu o caso de juiz em Porto do Cachoeiro, ES, onde tomou conhecimento dos fatos que inspiraram Canaã. Seu primeiro trabalho foi o prefácio de um livro em 1894, quando já morava no RJ. Dois anos depois, em 1896, participou da fundação da ABL, mesmo nunca tendo publicado nenhuma obra literária; tal fato só foi possível porque seu amigo Joaquim Nabuco lhe foi 'fiador literário' até 1902, ano da publicação de Canaã. Partiu em 1899 com o mesmo Nabuco para Europa como diplomata. Em 1911 sua peça Malazarte foi encenada com sucesso em Paris. Aposentou-se da diplomacia em 1921, participou da Semana de Arte Moderna de 1922 e abandonou a ABL 1924. Não é considerado modernista porque sua única obra 'modernista', A viagem maravilhosa, de 1939, é feita em um estilo extremamente artificial. Morreu logo antes de publicar sua autobiografia, O meu próprio romance, em 1931. Sua única obra de significado verdadeiro é Canaã, donde provêm as passagens que seguem.

II- Obra:

Milkau, alemão, recém-chegado, o a uma colônia de imigrantes europeus, no Espírito Santo, aluga um cavalo para ir do Queimado à cidade de Porto do Cachoeiro. Junto com ele vai o guia, um menino de 9 anos, filho de um alugador de animais, no Queimado.

O imigrante observa a paisagem e, ao passar por uma fazenda abandonada, entregue aos poucos e pobres escravos, nota o ritmo daquela gente desamparada. Finalmente, chega ao sobrado do comerciante alemão, Roberto Schultz, em Cachoeiro. Na parte inferior do edifício fica o armazém, onde é negociada toda sorte de produtos, desde fazenda até instrumentos agrícolas.

É apresentado a outro imigrante, Von Lentz, filho de um general alemão. Milkau deseja arrematar um lote de terra para se estabelecer. Schultz apresenta-lhe o agrimensor, Sr.Felicíssimo, que está para ir ao Rio Doce fazer medições de terra. Milkau, desejando aí se estabelecer, decide se juntar ao agrimensor e convida o indeciso Lentz para acompanhá-lo.

Pelo caminho, Lentz e Milkau discutem a paisagem e a raça brasileiras. Milkau crê que o progresso só se dá quando os povos se misturam. Vê, na fusão das raças adiantadas com as selvagens, o rejuvenescimento da civilização. Enquanto acredita na humanidade, pensa encontrar no Brasil Canaã, 'a terra prometida'. Lentz só se ocupa da superioridade germânica, ficando enaltecido com o triunfo dos alemães sobre os mestiços. Para ele, a mistura gera uma cultura inferior, uma civilização de mulatos que serão sempre escravos e viverão em meio a lutas e revoltas. Acrescenta que está no Brasil, porque o estava forçando a se casar com a filha de um general, amigo do pai. Preferiu começar vida nova, longe dos deveres e obrigações impostos por sua sociedade. Milkau conta-lhe que também não encontrava graça no viver, ansiava por uma vida mais independente, em que pudesse dar vazão à sua individualidade.

À noite, reúnem-se a Felicíssimo e ouvem de alguns homens da terra e dos trabalhadores alemães lendas, evocando o Reno e despertando saudades. Os planos dos dois imigrantes diferem; Milkau deseja manter seu pedaço de terra e anseia por uma justiça perfeita sem ganâncias ou lutas. Lentz está determinado a ampliar sua propriedade, ter muitos trabalhadores sob seu comando. Sonha com o domínio do branco sobre o mulato, numa confirmação de seu poder.

Após as medidas tomadas por Felicíssimo, Milkau pode levantar sua casa e Lentz deixa-se ficar, triste e angustiado, incapaz de abandonar o companheiro, dedicando-se às viagens e compras da casa. No trajeto, encontra-se sempre com um velho colono alemão taciturno, em companhia de seus cães ferozes, mas fiéis. Mais tarde, encontrará esse velho morto em casa, guardado pelos animais e devorado pelos urubus.

Um dia, ao retornar de Santa Teresa, Lentz traz a notícia de que, em Jequitibá, o novo pastor vai celebrar seu primeiro serviço. Os colonos preparam uma festa e Milkau resolve juntar-se a eles como forma de se familiarizar com os costumes do povo. Pelo caminho, os amigos encontram famílias inteiras de colonos. As mulheres se vestem com o modelo usado na partida para a nova terra, sendo possível fixar, pelo vestuário, a época de cada imigração.

Felicíssimo os convida para, depois do culto, festejarem no sobrado de Jacob Müller.

Ouvem música e vêem o povo dançando. Milkau diz a Lentz que era isso o que buscava: uma vida simples em meio à gente simples, matando o ódio e esquecendo da dor. Os homens de outras terras estavam possuídos pelo demônio, devastando o mundo. Lentz vê em tudo aquilo uma existência vazia e inútil.

Milkau conhece, nesse dia, no sobrado de Müller, uma colona, Maria Perutz, que não consegue mais esquecer o encontro com o rapaz. A história de Maria é triste e solitária. O pai morreu antes que ela pudesse conhecê-lo. A mãe viúva, criada da casa do alemão Augusto Kraus, logo falece e Maria fica sob os cuidados de Augusto, seu verdadeiro amigo. Moravam com o velho, seu filho, a nora Ema e o neto, Moritz Kraus. Repentinamente, Kraus falece e a situação na casa de Maria se modifica.

Ema e o esposo decidem separar a moça do filho, temendo uma aproximação amorosa.

A família quer ver Moritz casado com a rica Emília Schenker e o enviam para longe de Jequitibá. O rapaz parte com certa alegria, deixando Maria desgostosa, pois os dois já eram amantes.

Franz Kraus é procurado por um Oficial de Justiça que, desejando saber porque a morte do velho não foi notificada, passa-lhe um documento sobre a necessidade de arrolamento dos bens de Augusto Kraus. Solicita que lhe prepare alojamento e comida para cinco pessoas, pois darão plantão em sua casa, recebendo todos os que estiverem na mesma situação de Franz.

O grupo se instala na casa e passa a chamar os colonos, amedrontando-os com extorsões e violências. Após a visita, cobram de Franz Kraus a alta importância de quatrocentos mil réis, além de demonstrarem certo interesse em Maria, notadamente o procurador Brederodes. Kraus sente-se ultrajado e roubado. A vida de Maria por essa época piora. Dia-a-dia, teme que seu estado se revele, por isso aguarda desesperadamente o retorno de Moritz para lhe contar sobre o filho que espera.

Os pais do rapaz não tardam perceber o que se passa. Vendo-a mover-se pela casa languidamente, sentem ódio e temem pelo casamento do filho. Passam o dia a cochichar, a tramar para se verem livres dela. Tratam-na com mais rigor, não lhe dão quase comida, dobram-lhe os trabalhos. Resignada, Maria resiste para desespero dos velhos. Uma manhã, trêmula e exausta deixa cair um prato. Encolerizada, Ema grita para que ela abandone a casa. O marido ameaça-lhe com um pedaço de madeira.

Amedrontada, arruma uma trouxa e sai. Pede auxílio ao pastor, mas esse, dominado pela cunhada, docemente afasta Maria que parte para a vila em busca de abrigo.

Ao verem a triste figura, os colonos tomam-na por louca, enxotando-a. Na floresta, seu único refúgio, cai prostrada e adormece. No dia seguinte, encontra uma estalagem, onde empenha a trouxa de roupa em troca de comida e abrigo. A dona do estabelecimento lhe dá dois dias para encontrar um emprego, mas a busca é em vão.

Certo dia, na hora do almoço, Milkau reconhece Maria na estalagem. Ao saber de sua história, prontifica-se a ajudá-la, levando-a para a casa de uns colonos. A moça é aceita, mas tratada com desdém.

Um dia, trabalhando, solitariamente, no cafezal, começa a sentir as dores do parto.

Temendo retornar a casa e ser maltratada, resiste até cair e, esvaindo-se em sangue, dá luz ao bebê. Alguns porcos, que estavam nas proximidades, correm para lambê-los, mordendo o bebê que falece. A filha dos patrões chega nesse instante e, sem nada perguntar, volta a casa, dizendo que Maria tinha matado o bebê e dado a criança aos porcos. Dois dias depois, Perutz estava presa na cadeia de Cachoeiro.

A população germânica, horrorizada com o crime de Maria, prepara-se para a vingança e o exemplo. Roberto Shultz procura os mesmos representantes da Justiça que amedrontaram e extorquiram os colonos, durante o arrolamento de bens.

Pede-lhes que deixem a punição da mãe assassina para os alemães. O procurador Brederodes, ignorado por Maria na época, insiste em puni-la para que aprenda a não ser tão orgulhosa. Chama todos os alemães de hipócritas e parte, deixando Shultz desmoralizado.

Milkau fica sabendo do destino de Perutz e o encontro com ela em Cachoeiro choca-o. Maria tinha a face lívida e os olhos cintilantes dançavam ao sabor da loucura. Volta a vê-la dias seguidos, passando a ser olhado com desprezo e desconfiança, pois, talvez, fosse o amante. Repelido pelos moradores, resigna-se com a condição de inimigo, permanecendo ao lado de Maria.

Certa manhã, estando em companhia de Felicíssimo, Milkau encontra Maria, sendo levada por dois soldados para o tribunal. Em cada fase do julgamento, é apontada culpada. Milkau acompanha todas as sessões, chegando a ficar amigo do juiz Paulo Maciel. Este lhe diz que o final não será feliz, pois os depoimentos não deixam brecha para a inocência. O imigrante e Maciel aproveitam os encontros para analisar a justiça brasileira, os brasileiros e seu patriotismo.

A avaliação não é das melhores. O juiz impossibilitado de fazer justiça por uma série de circunstâncias observa que a decadência ali existente é um 'misto doloroso de selvageria dos povos que despontam para o mundo, e do esgotamento das raças acabadas. Há uma confusão geral'. Milkau crê que se pode chegar a algo melhor.

Entretanto, à medida que acompanha o definhar da amiga, vai se deixando tomar pela tristeza.

Finalmente, numa noite, Milkau tira Maria da prisão e foge com ela, correndo pelos campos em busca de Canaã, 'a terra prometida', onde os homens vivem em harmonia.

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Prosopopéia;de Bento Teixeira

Prosopopéia

Publicada em 1601, de grande valor histórico, a obra mais famosa do escritor é o poema épico, já citado, Prosopopéia. Nele, o escritor fala sobre a vida e o trabalho de Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro donatário da Capitania de Pernambuco, e seu irmão, Duarte. É a única obra reconhecida e aceita como de sua autoria.
Embora tenha sido originalmente publicada em Lisboa, na ocasião em que Bento Teixeira ali encontrava-se encarcerado, e a despeito do autor ter nascido em Portugal, atribui-se à Prosopopeia o mérito de ser uma das primeiras obras da literatura brasileira, uma vez que Bento Teixeira estudou e fez carreira no Brasil.
Escrito em oitava rima, com noventa e quatro estrofes, o poema marcou o início do movimento barroco no Brasil. Ao que parece, a obra foi influenciada pelo poema Os Lusíadas, de Camões. Tal influência é percebida quando analisada a sintaxe, e a estrutura. A sintaxe é extremamente clássica, cheia de inversões, o que dificulta o entendimento por um leitor do século XXI. A estrutura segue de perto a da obra de Camões, como se percebe já de inicio pela existência de proposição (Onde apresenta o assunto da epopéia: cantar os feitos de Jorge d'Albuquerque), invocação (quando pede ajuda do Deus cristão para compor seu texto) e dedicação (o texto é dedicado a Jorge d'Albuquerque, visando ajuda financeira).
De caráter heróico, a suposta coragem e valentia dos irmãos é narrada em decassílabos. Os acontecimentos abordados dizem respeito as terras brasileiras e a região de Alcácer-Quibir, na África, onde os irmãos teriam se destacado em uma importante batalha. Ambos, teriam também sofrido com um naufrágio, quando viajavam na nau Santo Antônio.
Trecho de Prosopopéia:
LX
Olhai o grande gozo e doce glória
Que tereis quando, postos em descanso,
Contardes esta larga e triste história,
Junto do pátrio lar, seguro e manso.
Que vai da batalha a ter victória,
O que do Mar inchado a um remanso,
Isso então haverá de vosso estado
Aos males que tiverdes já passado.